terça-feira, 29 de abril de 2014

As Faces da Infância

Olás...

E mais  resgates de papel amarelado. 

Há dias - e  são  muitos dias no decorrer da vida - em que nos desprendemos das tarefas do dia a dia, para relembrar as  imagens das nossas infâncias, passadas em lugares tão longínquos, esquecidos nos mapas e distante do progresso urbano.

Imagens de felicidade, de pés descalços chutando a água da chuva escorrendo pelas ruas de barro. Imagens de barquinhos feitos de papel, navegando em poças d´água. Imagens das brincadeiras em noites  de lua cheia,  e  de ouvir, sentados em um banquinho de madeira fincado no quintal de nossas  casas, as histórias contadas envolvendo fantasmas, caipora, saci -pererê, lobisomem e mula sem cabeça.

Imagens dos Natais! Como era gostoso dormir cedo à espera do Papai Noel trazendo presentes (bolas de plástico, panelinhas, bonecas feitas de pano). À  meia-noite a obrigação de ir à Missa do Galo, visita aos presépios da Igreja, pedir benção dos padrinhos (batismo, crisma e de fogueira de S. João).

Aquele delicioso bolo de chocolate e refrigerantes que não eram "diet" nem "ligth". Árvore de Natal  feita de galhos  e cobertos com algodão, para  dar a  impressão de neve. Tudo isso enfeitavam as noites tranquilas das famílias,  no Natal.

Cenas das escolas, professores respeitados e das sabatinas de matemática. Palmadas nas mãos, como castigo por ter errado a conta. Saber de cor o Hino Nacional, o Hino à Bandeira. Marchar, no dia 7 de setembro.  Tudo sem aquela  noção de obrigação.

Moleques e molecas, alegres, soltos, sabendo viver a fase mais linda da vida: a infância. Sim. Éramos  catadores! Mas não catadores do lixo disputado por urubus; não o lixo que cheira mal e que, infelizmente,  é o lixo que "sustenta"(?) a sobrevivência, hoje em dia,  de milhares de   seres humanos (?). Éramos catadores, sim,  mas de alegria!

Os tempos mudaram. E é preciso que o tempo mude. As cidadezinhas sofreram a invasão do progresso, da tecnologia, da globalização, da violência, da desconfiança, da falta de amigos, da concorrência desleal, da corrupção. As crianças estão presas entre grades, ou soltas, nas ruas, escravizadas, exploradas, vendendo, vendidas...

Já não brincam como outrora. Histórias infantis não lhes são mais contadas. Cansadas,  de esperar por um Papai Noel que não vem, enfrentam  o frio na noite solitária. Já não sentem medo de saci-pererê. Enfrentam e querem ver ETs.  As brincadeiras são violentas, com armas de verdade  às mãos. Jogos de RPG, vídeo-game que despertam a inteligência (?) - de quem?

Morreu a infância de outrora, suplantada pela infância de agora, Nesta, as crianças nascem adultas, maquiadas, munidas de books para serem futuras modelos bilionárias, ou serem jogadores de futebol com salários invejáveis.

Ficaram apenas as imagens,  mas sem crise de nostalgia. É  bom revivermos  uma época de felicidade. Talvez uma felicidade que já não sirva aos padrões atuais.

Agora, vamos dar um VIVA à infância da moda, do "rap" e da droga.  Vivem felizes (?), mas não terão as histórias sadias para  contar aos filhos  e netos, tampouco saberão cantar as cantigas de ninar. Se chegarem a viver.

E daí?

Será que também não queríamos  viver a infância de agora? Os brinquedos de Natal são outros, mais empolgantes, mais interessantes... bem mais caros, afinal.

Papai Noel! A infância de hoje quer brinquedos da moda. Eletrônicos, que estimulem a inteligência  e que substituam os pais.

Saci-pererê! Dê  lugar aos super-heróis, que não têm medo de nada e que não metem medo nem em bebês.

Lobisomem! Você é motivo de festa nos aniversários e em Dias de Haloween, apenas.

Do que adiantam as imagens da infância de outrora  se, para  vivermos a velhice, precisamos do viço, da inteligência de agora? 

Era aquela infância que estava perdida,  ou esta - de agora -, que perde cedo a inocência e a noção de medo, do respeito e do amor pelos pais?

Os chips de agora não conseguirão apagar essas imagens, de indefinidos dias felizes, vividos em uma cidadezinha, já nem tão pacata.

Quisera pudéssemos viver outra infância, juntando o  que  foi bom em uma, acrescentar as facilidades da outra, bater tudo no  liquidificador e tomar todos os dias uma dose da verdadeira felicidade: a de ser criança outra vez.

Mamãe Coruja


2 comentários:

  1. Lindo!!! Fico feliz em ler cada palavra sua. :)

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    1. Surpresa mais do que boa sua "presença" aqui, além de você estar sempre em meu coração.
      Volte sempre.
      Beijos

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