quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Adeus, Ditadura!


Olás...

Há 30 anos, na data de hoje (15/01), o Brasil elegia Tancredo Neves, primeiro presidente eleito democraticamente, após 21 anos de Ditadura no País. Um período de dor, de prisão, de cassação, de fechamento do Congresso e todo tipo de violência.

O Brasil iniciava uma nova história. Estávamos sendo apresentados a uma Nova República.

Tancredo Neves venceu no colégio eleitoral por 480 votos, contra 180 dados a Paulo Maluf, que era candidato da situação. Aquele momento foi considerado o marco do fim da Ditadura, embora não tenha chegado a tomar posse, porque, como sabemos, Tancredo morreu no dia 21/abril/1985. Lembro-me do dia da sua vitória, como também o dia de sua morte. O País estava de luto. Eu mesma caí em lágrimas e não saia da frente da TV, acompanhando o noticiário. Era a esperança de multidões que se via ruindo. Poderia comparar à morte de Airton Sena, ou ao recente episódio da Copa no Brasil, ano passado, quando o Brasil sofreu 7 gols da Alemanha. A diferença, que neste recente episódio a decepção veio acompanhada de depredações e ofensas, o que desvirtuou todo o sentimento de tristeza, passando a não ter o apoio da maioria. Ao contrário dos eventos envolvendo a eleição e morte de Tancredo, tal como do Airton Sena, o País inteiro se envolveu, numa comoção jamais vista.

No seu discurso “O Brasil dos nossos dias não admite nem exclusivismo do governo, nem da oposição. Governo e oposição acima dos seus objetivos políticos...”, Tancredo demonstrava a ideia fixa de mudar a fisionomia e o perfil do Brasil como um todo. Não estava preocupado em fazer pontes, mas sim dar ao Brasil uma estrutura moderna e dinâmica.

Passadas três décadas, ainda é possível, hoje, se ter uma noção bem clara da importância daquele momento. Era o sonho do brasileiro, uma data anunciada, o fim da Ditadura, que parecia não ter fim. Uma Ditadura que foi aturada mais tempo do que a Ditadura anterior, de Getúlio Vargas, que já parecia uma Ditadura muito longa.

Sem dúvida, a eleição de Tancredo Neves foi o momento de reconciliação, de renovação. Foi uma data importantíssima, uma data marcante, quem viveu não vai esquecer nunca esse momento. E, quem não a viveu, que procure resgatar a história do País.

Poder-se-ia dizer que o atual período democrático é ainda muito jovem: apenas 30 anos. Nós ainda não vivemos um período tão longo de Democracia, como da Primeira República. Depois da Proclamação da Republica, se descontarmos os anos reais de governo militar, tivemos 40 anos de Democracia. Apesar de estarmos numa Democracia consolidada, que se acredita (mesmo considerando que é nesta Democracia que têm acontecidos os maiores episódios de corrupção), é mais moça do que a Democracia da Primeira República. Apesar das várias conquistas, como o voto do analfabeto, que não existia há pouco mais de 30 anos, as eleições sem fraudes, que era muito comum serem fraudadas, ainda temos muito a conquistar neste período democrático.

O que foi conquistado é pouco. O poder ainda é dividido em capitanias hereditárias. Temos ainda resquícios das oligarquias dominantes. Ainda não se tem alternância de poder, que é uma das características da Democracia.

O País vive o seu momento de crise: escândalos, violência nas ruas, dentro de casa, corrupção e nos perguntamos: Democracia é isso?

Há dias, uns manifestantes – jovens entre eles - afixavam cartazes pedindo pela volta da Ditadura. Quando um repórter perguntou a um daqueles se sabia como era o regime da Ditadura, não soube responder, e começou a ofender o jornalista. Parte daí as mudanças: conhecer a história de seu País antes de reivindicar algo que desconhece. O que existe de errado vamos tentar mudar, mas mudar com mais Democracia, com as armas da Democracia é que iremos melhorar a Democracia. Vamos enfrentar os problemas atuais, que adoecem o sistema democrático com mais democracia!

Porque nada é pior do que a Ditadura. Nada é pior do que se ter um jovem na Ditadura. Nada!

Se refletirmos sobre alguns avanços nesses 30 anos, podemos afirmar que muito foi feito na Democracia, por exemplo: a criação da Secretaria do Tesouro, a Lei de Responsabilidade Fiscal, o Plano Real, a criança na escola, combate à pobreza, à desigualdade, como também a luta dos negros foram avanços dentro da Democracia.

No Livro “Araguaia – História de Amor e de Guerra”, em que o jornalista Carlos Amorim descreve o conflito armado no Sul do Pará, durante o regime militar, ele define a reação das forças armadas a esse conflito, como a maior mobilização de combate desde a segunda guerra mundial.

O que teria motivado as Forças Armadas a uma reação tão forte assim? Na opinião do jornalista, foi completamente desproporcional ao que realmente estava acontecendo no Araguaia. Houve um movimento guerrilheiro, organizado pelo PC do B (Partido Comunista do Brasil), que reuniu algo em torno de 100 pessoas, e as Forças Armadas reagiram contra isso com uma mobilização de tropas estimada em 10 a 15 mil homens. A guerrilha do Araguaia foi o maior exemplo de resistência contra o regime militar durante toda a Ditadura. Durou cerca de 10 anos, entre 1966 (quando chegaram os primeiros militantes do PC do B ao local) e 1977, quando as forças de segurança localizaram, em São Paulo, o Comitê Central do Partido. O que aconteceu ali ficou conhecido como o Massacre da Lapa. Alguns integrantes do PC do B foram assassinados e outros presos.

Ironicamente, apesar de ter sido uma das resistências mais longas, o episódio é o menos conhecido de toda essa história (fui presenteada com o Livro "Guerra de Guerrilhas", lido "trocentas" vezes, pelo então namorado, que sofreu alguns "castigos" por estar cantando uma canção dita "ofensiva" ao Governo).

A luta nas matas começou em 1966, reunindo um grupo estimado em 73 combatentes, mas o regime militar só descobriu o movimento final de 1971. As primeiras tropas chegaram à região somente em abril/1972. E daí os combates duraram ate janeiro de 1975. Uma resistência longa, diante dessa força empenhada pelas forças federais. Uma resistência quase inacreditável. Uma guerrilha completamente despreparada para a reação que ela provocou, desarmada, mobilizada apenas pela intenção de promover uma resistência, um movimento ideológico Ter sobrevivido a todo esse tempo é considerado, pelo jornalista, como um prodígio.

As Forças Armadas realizaram três expedições militares ao Araguaia: as duas primeiras em 1972 e início de 73, e a terceira em outubro de 1973. Os primeiros movimentos militares foram completamente desastrosos. Houve combate entre as tropas federais, sofrendo derrotas inexplicáveis. Eram forças cheias de recrutas, pessoas despreparadas para agir na selva, que fugiram ao som dos primeiros tiros. Um desastre! Somente na última etapa essas forças de segurança aplicaram uma estratégia diferente. Montou uma contraguerrilha com apenas 750 homens. Recrutou moradores locais e envolvia mateiros, índios. Destruiu o movimento revolucionário em poucos meses.

Temos muito a conquistar, muito a se fazer. Ao relembrarmos tristes episódios (o exposto acima é apenas parte do que foi a Ditadura antes desse atual período democrático no Brasil), temos a plena convicção de que também temos muito a comemorar.

Afinal, 30 anos não é pouco, esperamos que seja permanente. Apesar de históricos de democracias na América do Sul serem frágeis, a democracia brasileira é a menos frágil, e esperamos que se fortaleça!
 
Mamãe Coruja

 

16 comentários:

  1. Winston Churchill: "A democracia é o pior de todos os regimes com excepção de todos os outros"

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  2. E cito, novamente, Samuel Smiles, escritor e reformador britânico: "Semeie um pensamento e colherás um ato; semeie um ato e colherás um hábito; semeie um hábito e colherás um caráter;semeie um caráter e colherás um destino".

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  3. Isto é o que se chama uma democracia em dueto! Passo a terceto!
    Se em pato saio!

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  4. Até falta mais um para ser quarteto, como o que a Académica levou na pá nesta jornada...

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    1. Se o Quarteto em Cy canta "Desafinado", quem sou eu para afinar com essas dupla, São e Dom?

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    2. Nem é preciso. Nós desafinamos sempre.

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    3. Não vejo assim.Mas, se João Gilberto desafinava... e gosto dele...posso gostar também de vocês dois, caso desafinem.
      ih ih ih

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    4. Vês, Rafael? Não está tudo perdido para nós, no mundo artístico!

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  5. Mas desenpato: eu sou o único!...para duas!!!!

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