domingo, 11 de janeiro de 2015

Fontes de inspiração

Olás...

Em outra oportunidade, comentara sobre o efeito que a chuva  me causa. Principalmente, quando ela cai em um domingo, pelas primeiras horas do dia, e a gente fica sem programar nada que seja fora de casa. Só quer mesmo é ouvir o tilintar da água no telhado.

Este domingo começou assim, chuvoso. Porém, hoje a inspiração que a chuva me traz é o oposto do que neste momento acontece: lembrei-me do Sol! 

Lembrei-me das praias por onde corríamos outrora - o sol bronzeando nossos corpos sem nada de protetor solar -, ou mesmo quando chovia. Interessante como não tínhamos noção do perigo. Se a chuva viesse, ficávamos dentro do rio, ou debaixo de árvores, ou jogando bola - a bola era feita com leite extraído da seringueira. Que importava? 

A chuva não era motivo para pararmos o que estávamos fazendo. Ao contrário, existiam as brincadeiras para quando chovia, e brincadeiras quando o sol se firmava sobre nós. Crescemos. Mas tudo acontece naquele cenário, diria que... quase do mesmo jeito de como ainda me lembro, nessas imagens recentes:

Piquenique na Praia de Pindobal - vivi muito tudo isso
(fotos de Zé Siqueira)
Nesses últimos dias do ano de 2014, infelizmente, ocorreu uma tragédia em Praia Grande, no litoral paulista, quando um raio matou 5 pessoas da mesma família. E  me perguntei: éramos tão tresloucados assim? Ou era a ausência de informações, de conhecimentos sobre os riscos do raio? Hoje sabemos que o Brasil tem maior incidência de raios,  mas àquela época,   vivendo no "brasilsinho" de um "brasil" do Brasil,  sequer tomávamos conhecimento desses estudos, se eles já existiam.

Acredito, mesmo ignorando o perigo dos raios quando se está em uma praia, ou dentro de um rio, é que algo mudou na Natureza fazendo com que essa incidência de raios,  com centenas de vítimas, aumentasse. Por ser um país tropical, quente por natureza, é um dos fatores que favorece. O problema é que as  áreas urbanas têm sido as  mais atingidas, e não mais quase que exclusivo em áreas rurais, descampadas. Por quê?

Não é muito difícil sabermos a resposta.  As edificações, o desmatamento para construir aglomerado de imóveis, a tal corrida do progresso, tudo contribui para o aquecimento do clima, e o resultado dessa expressão nem tão matemática assim, todos sabemos.

Mas a chuva, ainda assim, me encanta. Antes de concluir, desliguei o computador por três vezes, enquanto eu olhava o céu completamente cinzento e molhado. Mas o pensamento me acompanhava, à janela, vendo a água escorrer pela rua. Os pássaros ainda não cantam. Eles só virão agradecer a chuva quando ela diminuir a intensidade. Os galhos das árvores, num bailado, estão sugando a água que vai escorrendo entre as folhagens. Quando a chuva parar, esse  cenário mudará: sons de  cantos de pássaros e os ramos das árvores estarão como quando saímos de um belo banho: frescos, para mais uma aventura, faça chuva ou faça sol.

E, por falar em aventura, as lembranças me remetem à praia onde fazíamos - e ainda fazem - piracaia (uma saborosa tradição cabocla de comer peixe assado à beira da praia, sob o luar).

Vou aceitar o convite de meu irmão, que vive toda essa riqueza ofertada pela Natureza. Irei saborear todas as lembranças que, neste instante,  enquanto a chuva cai, me vêm à mente.

Meu irmão adora pescar. Saiu do calor do asfalto para viver sentindo o cheiro das árvores, das frutas e dos rios.
(fotos de Rodrigo Siqueira)
Voltarei a pisar naquela areia tão alva, naquelas águas azuis e tranquilas do Rio Tapajós. Lá nascemos. Vivemos nossa infância e metade da adolescência. Os rios da minha vida!

Ainda "sinto"  o ranger da areia nos meus pés, quando por ali andávamos
(Fotos de Zé Siqueira)

As águas que banham essas praias são tão transparentes que se veem os grãos de areia brilhando
(Fotos de Zé Siqueira)

A praia fazendo seu caminho,  o rio recebendo-a, de braços abertos.
(Fotos de Zé Siqueira)


A chuva diminuiu, agora, mas -  pelo que vejo pela janela do quarto - ainda promete chover neste domingo. Sabem? Eu espero que continue esse clima bom. 


É sempre prazeroso quando a chuva nos traz essas lembranças... lembranças de como podemos reviver tudo isso, sob sol... chuva... luar, fazendo piracaia na Praia de Pindobal.

Aguarde-me, meu irmão! Apronta a Pousada Juvência, coloca gasolina no barco, quero saborear o tacacá na terrinha onde , final de tarde, as boas tacacazeiras colocavam suas mesinhas e vendiam essa saborosa comida típica de nossa Região, inclusive nossa mãe e tua corajosa e lutadora sogra, que hoje está em outro plano.

Veem? A chuva foi a minha inspiração. Hoje, foi.


Mamãe Coruja



30 comentários:

  1. Que lindo! Espero um dia conhecer. Beijo

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    1. Você até que já foi lá, mas era tão pequenina...só brincaram de bola no quintal enlameado (poeira + chuva = lama).
      Mas o período de carnaval, que prefiro sossego, bem que podemos marcar. Lá é bem legal os blocos de sujos. Um carnaval ainda nem tão elitizado.

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  2. Parabéns mãe. Vá em frente nas aventuras. #chuva.

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    1. Obrigada, filho amado.
      Saí apenas para almoçar. Comi peixe assado na brasa, e depois um bom caldo de tambaqui.
      #Nãoparadechover!

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  3. Respostas
    1. Algum dia te esperamos para uma piracaia na Praia de Pindobal, São. Tu e tua turma.
      E não esqueça de trazer teu ginecologista!

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    2. O meu ginecologista, acho que só se fôssemos de barco...

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    3. Que seja, uai! Pedro Álvares veio... por que ele não viria?
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    4. O teu irmão pode vir buscá-lo no barco dele?

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    5. Ele já foi de Manaus/Amazonas até (quase) Santarém, no Pará, de barco..ele, filha e um filho. Somente os três! Se não fosse tão longe... ele iria :-)

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    6. Se já foi a Santarém, ele que volte que o Rafael pode apanhar lá o barco. Diz ao teu irmão que é só atravessar o Atlântico, entrar pelo estuário do rio Tejo, subir uns 80 Km e já está em Santarém.

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    7. Fontes de inspiração são abençoadas quando nos remetem para os momentos mais belos da nossa juventude!
      São momentos eternos, alguns já envoltos em alguma nebeblina, mas que teimamos em encontrar uma brecha que permita identificar um pouco melhor esse momento, talvez soltar uma lágrima de saudade!
      Tenho o gosto de cerrar os olhos, concentrar-me no passado bem longínquo da minha infância e entreabir os lábios para deixar passar um sorriso de satisfação com as imagens que passam! E se algumas me espantam...
      Também tenho algumas de comer peixe assado na brasa, mesmo em cima dela mesmo, não à beira do mar mas do rio da minha terra, Dueça é o seu nome, e o prazer diria mesmo a sofreguidão, uma mão segurando a cabeça, outra o rabo e só sobrava espinha inteirinha....Só não registei o nome do sacrificado...
      Obrigado Cara Amiga pelo texto que me levou tão longe no tempo, mesmo muito longe!

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    8. Este comentário foi removido pelo autor.

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    9. Olha, olha o Pedro Álvares Cabral era maluco...Só assim se explica andar de piroga( grande, claro) aos baldões em cima das ondas: diz ELE O POETA, para dar novos mundos ao mundo!
      Que lhe tenha feito bom proveito:
      Eu prefiro andar de balde a apanhar água em terra firme do que
      viajar de barco em cima de água...
      A São Rosas que aproveite! Já que mete tanta água...é mais água, menos água! Está habituada...anda sempre molhadinha( como se gaba...)

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    10. Juro que li outra coisa, antes de ler "piroga", ainda mais que adiante vem "(grande, claro)". Levei um susto!

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    11. N´ acredito em sustos!!!! Só quando estou com soluço!

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    12. A Mamãe também ficou sem soluços.

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  4. A curiosidade trouxe-me até aqui, em boa hora!
    Gostei imenso da tua narrativa inspirada pela chuva. Até sinto o cheiro da piracaia!
    A São Rosas é uma grande atrevida; anda por aqui, como se estivesse em casa...
    Tudo de bom para ti.

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    1. Carlos, tua vinda aqui é sempre muito bem recebida. Quem agradece sou eu, por teres tirado do teu tempo precioso um cadito para leres minhas...lembranças.
      Quanto à São Rosas...ela já é de casa, como todos vocês.
      Beijos.

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    2. Olha outro a mostrar-se entendido em peixes e pescarias, este que só gosta de tripas à moda do Porto!!!
      E então fala em piracaia-Sabe lá o que é isso. Pensa que é xixa grelhada!
      E então dá na São Rosas e chama-lhe atrevida. Como se todo o mundo não soubesse! Atrevida e descarada!

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    3. Comi muita farofa feita com as tripas da galinha de quintal, dessas que eram criadas em casa mesmo, e não compradas - em série - das granjas.
      Que farofas gostosas! A tripa - e o bucho - do boi também é uma delícia quando colocados no feijão.

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    4. Como se diz na minha terra, "Chiça, penico, chapéu de coco", que não me largam a braguilha nem mesmo a 4.600 Km de casa!

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    5. Explica-me o..."Chiça, penico, chapéu de coco´ que não me largam a braguilha...", só mesmo para eu entender se queres comer tripa e bucho no feijão, ou se já pensas em correr ao penico com dores nas tripas...!?

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    6. É só uma expressão de admiração, sem qualquer sentido.

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  5. Há chuva abençoada, eu acredito! Depois do que li...
    O texto e os reflexos que provocou.
    E esse mar, essa água, essa areia branquinha...

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  6. São as águas do Rio Tapajós, que banha Santarém, no Pará.

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