domingo, 22 de março de 2015

Sou o que deveria ter sido

Olás...


Olhando o reverso da minha vida, analisando o que me rodeia, por quase todos os contextos, concluo que sou privilegiada. Sim. Muito privilegiada.

Tem sido uma luta ferrenha para não me deixar enlamear por pensamentos abjetos; para não me desprender de alguns princípios escolhidos como imprescindíveis para estar neste mundo (às vezes "mundo cão").

É desgastante manter a Razão diante de tantas provocações enfrentadas na jornada da vida. (sim, da redundância e lógica da Vida, porque nada sabemos da Morte). Soa até como fraqueza aos olhos daqueles acostumados a enfrentar as adversidades com outro tipo de atitude, mais violenta, mais sangrenta, diria. E então, nos perguntamos: quem está vivendo da melhor forma possível? Aquele ou este?

E, mais adiante, na introspecção abstrata que faço, o que teria sido eu, se não fosse quem eu sou, àquele tempo e agora?

Nem preciso de tempo interminável  para chegar a uma conclusão: queria ter sido poetisa. Dessas que a gente lê e tem vontade de ter tido essa luz de sabedoria, ter tido o mesmo dom para escrever e descrever  tanta beleza. Mas eu não gostaria de ter sido a sombra de alguém. Queria ser eu mesma, desde o primeiro choro. Desse jeito mesmo, sem tirar nem pôr. Mesmo sem a grandeza de versos, mas com o sentimento do mundo nas mãos.

Uma poetisa (qualquer outro substantivo que se dê), ou apenas uma "apanhadora de palavras",  que falasse de coisas simples, para pessoas simples, sem qualquer preocupação com as críticas, sem obrigações com nada, mas em paz com tudo. Que falasse de flores, de chuva, de sol. Até de um pingo d´água. Ou que falasse de nada. 

Peão-barrigudo -  presente de um amigo
(Foto: Mamãe Coruja)

Em cada palavra, no entanto, mesmo com uso de clichês, que tivesse o sentido profundo das coisas, dos objetos, do vácuo, ou do vago. Dos sentimentos... de mim, por fim.

Se eu não fosse quem eu sou, provavelmente eu teria sido essa pessoa. Escritos espalhados nas bancas, entulhados em alguns espaços; moldados,  em outros; referenciados  por muitos. Teria falado de flores, de plantas, de amigos, de sentimentos, de amor.

Maravilha do meu quintal
(Foto: Mamãe Coruja)

Pensando bem... creio que sou (quase) tudo o que eu quis ter sido. Em regresso à minha infância, sem divãs e sem especialistas para me ouvirem, eu me vi e me ouvi há segundos. Sim, continuo a pessoa que gosta de escrever sem muita pretensão. Que escreve, não com teclas, mas sim com a voz da Emoção. Um tanto sem Razão. Sim, sem muitas razões, porque às vezes é fundamental ficarmos sem essas amarras só para provarmos que somos sãs. Nessa digressão, distancio-me do agora e me vejo sempre rodeada de plantas, árvores, frutas...vegetação. Sou o que deveria ter sido.
(Foto: Mamãe Coruja)

Talvez fechada em alguns momentos. Dispersa. Ausente de  mim para pensar em outros. Mas creio que para cada momento do que eu fui e tenho sido,  escrevi algo, porque tamanha tem sido minha vontade em transgredir as fronteiras entre o sentir e o escrever. Estão em algum lugar, nas gavetas, nas estantes, e até entre  as páginas dos livros. Guardados em um caderno volumoso, deixados para trás. Afinal, se escrevo com a voz do coração, tudo está registrado da melhor forma que se tem para perpetuar nossa existência: as lembranças... e do que somos capazes em poder partilhá-las!

Maravilha do meu quintal - Ixora - gênero botânico pertencente à família Rubiaceae
(Foto: Mamãe Coruja)


Momentos precisos. Outros, imprecisos. Interrupções do trajeto, para escrever sobre a lua que brilhava entre as palmeiras, naquela noite de luar. Dias, em nada a me inspirar, mas foi quando saíram os versos mais ricos - para mim. É quando se vê que o vazio pode ter outro significado, que não somente aquele a que estamos acostumados. Como, por exemplo, enxergarmos tudo de uma só cor... mas lá está um arco-íris de oportunidades para o artista que pinta na tela, a sua dor.

Riqueza do mundo natural -  biodiversidade!
(Foto:Mamãe Coruja - Local de Trabalho)
Percebemos, finalmente, que poderíamos ter sido tantas outras pessoas, com escolhas diferentes, gostos diferentes, vivendo em outros espaços, sozinhos; ou,  se convivendo com tantos, espelhando-nos na Natureza, cada variedade de planta "sabendo" o seu papel.

Se eu não tivesse sido o que sou... gostaria de ter sido eu mesma. Mas, ainda assim, me falta o essencial: queria escrever o máximo com o mínimo de palavras.

Queria, finalmente,  ter enxergado tudo o que não vi, em ti.

Mamãe Coruja

11 comentários:

  1. Respostas
    1. Às vezes até gosto de abusar, mas sempre atenta para perceber se a outra pessoa aguenta.
      eh eh eh

      Excluir
  2. Se tu não fosses tu e fosses outra, a outra eras tu à mesma!...
    Adoro estes pensamentos filosóficos... faz-me sentir inteligente!...
    Gostei muito do teu texto e até achei que tem o número certo de palavras!...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Alfreeeedooo! Que bom que vieste.
      Mas, deixa de modéstia.Estás em um estágio tal da Inteligência que já te dás ao prazer de fazer gozações (e gozar também) e de fazer piadas do teu potencial.
      (São bem raros os que podem fazer isso,acredite).
      Bjos... e grata pelo comentário agradável.

      Excluir
  3. Respostas
    1. Obrigada. Se sou algo para se orgulharem... devo a uma educação que, aos olhos de hoje, foi rígida para muitos.
      Para mim, não foi.
      Eu amo você!
      Bjs

      Excluir
  4. Para mim..e acredito que para nós também não foi.

    Bjs.

    ResponderExcluir