quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Os negros dos EUA



 Olás...

Pois bem. Se o que acontece nos EUA fosse mais um caso no Brasil, o mundo certamente estaria em polvorosa. Mas sendo o ocorrido em uma potência mundial, tudo - parece - tem explicação. 

Os jornais noticiaram, em todos os meios de comunicação, que os EUA enfrentaram uma segunda noite de protestos e violências, com centenas de pessoas se manifestando, em diferentes cidades - Nova York também -   contra a morte do jovem Michael Brown, que foi assassinado pela Polícia, em agosto passado, no Estado do Missouri, na cidade de Ferguson, onde os atos estão sendo mais violentos. Nessa última noite, houve uma intervenção maior, por parte da Força Nacional, impedindo, por exemplo, os saques e que colocassem fogo em carros. 

Mas as manifestações continuam, desde que o policial, que é o autor dos disparos, que matou o jovem negro Michael Brown, acabou inocentado, ou seja, o inquérito não seguiu em frente e isso vem causando a série de manifestações. 

Em um país que inspirou as políticas afirmativas e elegeu um presidente negro, esperava-se avanço nesse debate, mas ainda são questões muito mal resolvidas nos EUA.

Talvez a gente aqui, vendo de fora, pudesse achar que houve avanços, mas quem está lá, deve ver o mundo do jeito que ele é, e parece que ele é diferente. A própria declaração que  Obama deu ontem, mostra que é diferente. Ele diz que “as frustrações que temos visto não são sobre o incidente particular. Elas têm raízes profundas em muitas comunidades negras, que sentem que nossas leis nem sempre são aplicadas de modo uniforme ou suficiente”. 

Então, O Presidente da República, sendo ele negro ou não,  está dizendo que há uma justiça para negros e outra pra quem não é negro. Isso mostra que lá é um caldeirão de fogo,  essa questão. Os EUA foram, talvez, líderes nessas políticas afirmativas, mas está provado que não resolveu e a questão é muito mais profunda do que essa suposta injustiça com o policial.

Ele não foi nem inocente. O Júri considerou que não havia indícios suficientes para levá-lo a julgamento. Então, nem foi resolvido se ele era inocente ou culpado, não tinha de ser julgado (o que chamamos no Brasil de fase da pronúncia). Não foi nem acusado, na verdade. 

É um país que ainda não resolveu essa questão. E,  de vez em quando, o mundo se surpreende com um exemplo como esses. No entanto,  quem por lá mora, principalmente os negros americanos, veem isso no dia a dia. 

Talvez tenha um dado também a mais, nessa questão, que transforme o fato em fato americano, em uma  tragédia americana.  Li, em um jornal, acerca da declaração de uma advogada, dizendo que a policia nos EUA tem um status especial, desde o 11 de setembro, porque a segurança foi ampliada de toda maneira possível, criando a percepção de que a polícia é a última linha de defesa entre trabalhadores e criminosos. Portanto,  existiria uma tendência de júris, como esse que absolveu  o policial, a ser condescendente com os policiais, que é uma tendência que vem desde 11/09. Então,  essa questão não está resolvida e nem vai ser resolvida tão cedo, se chega ao ponto que chegou agora, é porque vai demorar muito para resolver a questão racial nos EUA.


Há alguns dias, também outro caso, de um menino que estava com uma arma de brinquedo na mão, um menino negro, e que também acabou sendo baleando, atingido por  outro policial, o que só mostra que há uma sequência de casos e que não é um fato isolado, que está em debate nos EUA. Envolve várias forças, de um lado, a população da cidade é 70% negra, então tem esse conflito que é antigo; por outro lado tem uma situação de segurança que já não é racial, tem a ver com terrorismo, com o 11 de setembro, que é o fortalecimento da polícia na questão da segurança. 

Quando esse policial não foi levado a julgamento, foi considerado não quem errou, mas quem iniciou o processo, e quem iniciou o processo foi a Polícia, não o policial. O policial, individualmente, seguiu uma lei, uma regra, que poderia ter atirado na condição que se encontrava. O erro não seria do policial, e sim da Polícia. Mas isso não é claro no que o Júri  diz. Apenas diz que o policial teria direito de defender naquela situação que ele se encontrava. 

Então, é bastante complicado. É um barril de pólvora,  porque são forças opostas muito fortes. A Polícia é muito forte, tem crescido, tem se fortalecido, com o que virou uma certa paranoia. Tem sentido objetivo e claro? Ninguém duvida disso, mas  vai tomando uma dimensão, de uma certa maneira, com o medo do terrorismo, que ele extrapola, vai além daquilo que ele deveria  ter ido.  

As políticas afirmativas, na verdade, fortalecem os negros. E isso é muito bom, não restam dúvidas. Mas não diminuem a segregação. Pelo contrário,  aumentam.

Vejam, uma cidade como essa do episódio, com 70% de negros, mas os negros não têm direitos iguais aos brancos.


Embora existam especialistas e as chamadas ações de inteligência envolvidas nesse aparato, na minha modesta opinião, as políticas afirmativas têm que ter um tempo, elas têm que parar. E a gente não tem que se centrar nisso. E sim centrar numa situação que é criar condições iguais para todo mundo. Mudar o pensamento. É isso que a gente tem que mudar. Mudar o conceito e o valor. 

A gente deveria investir – eu digo "a gente" falando dos EUA,  mas a gente vive isso também no Brasil. Deveríamos investir numa mudança de consciência e percepção. Não adianta objetivamente ir lá e fortalecer essa ou aquela população. 

O que a gente ver nos EUA? Um presidente negro e uma situação em relação aos negros igual ao que era, talvez tenda até a pior.


Outro  exemplo, que também me preocupa: quando a gente faz uma política afirmativa para minorias, para todas as minorias, infelizmente aumenta a criminalidade. 

Não adiantam apenas políticas afirmativas. É preciso mudar a consciência. Do que estou falando?  Falo da homofobia, por exemplo,  no Brasil  acontece isso. Então, quanto mais atos sobre tolerância à homofobia acontecem, tem aumentado os crimes  contra homofobia, acontecendo nas ruas.

Enfim, política afirmativa para negros, homossexuais ou qualquer classe desprivilegiada é necessária, mas é preciso que junto a isso venha uma mudança de consciência, senão não adianta nada. O  que estamos vendo nos EUA é a prova disso.


Mamãe Coruja



2 comentários:

  1. Tenho assistido práticamente todos os dias às manifestações bem violentas que se estão passando nos Estados Unidos, em reação à morte do jovem negro por um policia.
    É um pouco recorrente situações destas e que normalmente têm por base o aspecto racial.
    Não vai ser fácil mudar as mentalidades dos intervenientes nestas sociedades multirraciais...porque ancestrais, talvez!
    Gostei como o tema está abordado.

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