Olás...
Nos
últimos dias uma foto despertou em mim a ideia de escrever sobre assunto, ainda tão instigante, sobre a construção da personalidade de cada indivíduo. Qual a influência da genética e do meio-ambiente na
personalidade do indivíduo?Afinal, como “Mamãe
Coruja”, qual a minha influência na personalidade dos meus filhos?
Li
acerca de muitas teorias de filósofos, psicólogos, neurocientistas,
geneticistas e até literatos. A ciência moderna tenta há séculos explicar sobre
a intrincada malha que forma o nosso comportamento. É muito interessante como eles sempre esbarraram em dúvidas.
Mas
compartilho com as premissas de alguns deles, como as de Sigmund Freud, ao
afirmar que a influência dos pais na personalidade dos filhos é imprevisível. Sim,
os pais são tidos como os agentes mais importantes na criação de uma pessoa.
São os primeiros a conter o que há de animal em nós, nos ensinando a controlar
desejos em nome de regras morais, castigos e convenções da civilização. Com
essa premissa, Freud foi, ao lado de Darwin, um dos grandes pensadores do
século XIX, a abalar a ideia de Deus, mostrando que as noções de pecado e culpa
são transmitidas pelos pais e podem ser a causa de vários dos nossos problemas.
Do conflito entre os nossos desejos e culpas, sairiam traços de personalidade
(como a timidez, a vergonha), recalques inconscientes e fraquezas que nos
acompanham vida afora. Freud vai mais longe: para ele, o jeito com que meninos
e meninas lidam com a figura do pai e da mãe é essencial para definir a sexualidade
da pessoa.
Até
o ponto que a genética permite, um bebê recém-nascido é como um molde de argila
flexível. Conforme interage com os adultos, a criança se molda ao mundo em que
nasceu. O que ele aprender, ver, ouvir, sentir será armazenado no cérebro e irá
compor a maneira como agirá no futuro. Ao nascer, vai demorar meses até
conceber ideias básicas, como a de ser distinto das coisas ao redor. Aos
poucos, porém, dar-se-á conta de que consegue mover algumas dessas coisas, seus
braços e pernas, e que outros seres fazem o mesmo. Assim, a partir do outro, o
bebê começa a ter a noção de eu, de que é um indivíduo. Daí a influência do
meio em que vive ser um dos fatores que irá formar a sua personalidade, além
dos traços genéticos, é claro.
Se
os adultos ao redor forem lobos ou cavalos, passará a vida toda uivando ou
relinchando e bebendo água com a língua (como aconteceu como o Selvagem de
Aveyron, garoto encontrado na França em 1799, que viveu a infância isolado na
floresta e, por volta dos 12 anos, trotava, farejando e se alimentado de raízes).
Entre
lobos ou humanos, a criança aprende o que pode ou não fazer. Percebe que, ao
chorar mais alto, a mamadeira vem mais depressa. Portanto, vale a pena ser
manhosa, pelo menos de vez em quando. Quando joga um objeto no chão, é
repreendida pela mãe e ganha uma bela bronca. Também começa a diferenciar
sentimentos: o que achava ser dor, começa a receber nomes diferentes como: fome,
ciúme, medo. As sinapses cerebrais são construídas a partir das relações
externas. Sem interação com o outro, não há personalidade, afirma Benito
Damasceno, neurologista e professor de neuropsicologia, da Unicamp.
Sem
dúvida alguma, mais importantes dos nossos primeiros anos são os pais. Com
eles, exercitamos uma das nossas grandes capacidades inatas: a de imitar. Os
pais servem de referência para estabelecermos padrões de sentimentos e atitudes.
O filho que imita o pai se barbeando, também conhece com ele jeitos de se
relacionar com as mulheres, modos de regular o tom de voz e até preferências
intelectuais.
Um
estudo citado no livro Freaknomics, de Steven Levitt e Stephen Dubnere,
realizado no ano de 1991 com 20 mil crianças americanas até a 5ª série, tentou
relacionar o desempenho escolar das crianças com o perfil dos pais e a
convivência de todos em casa. Descobriu que as boas notas não estão relacionadas
àquilo que os pais fazem: se mandam os filhos lerem ou leem para eles antes de
dormir, mas ao que eles são: se têm o
hábito de ler para si próprios, se têm livros em casa e se são bem instruídos.
Nos
primeiros anos, o filho se identifica com quem faz o papel de pais e passa
muito tempo copiando suas ações, afirma Eloísa Lacerda, fonoaudióloga e
psicanalista da PUC-SP especializada na 1ª infância. Talvez se explique assim o
caso do filho que passa a infância apanhando e, quando adulto, vira um pai
igualmente agressivo. A mesma teoria serviria também para explicar o contrário:
o filho que, em alguns pontos, se torna o contrário dos pais. É que eles podem
servir de referência de traços aos quais reagimos. Assim os psicólogos explicam
a família do casal que passa as noites brigando e tem um filho do jeito oposto,
tranquilo e pacificador.
Vale a regra do: cada caso é um caso, que nem
sempre é comprovada por estatísticas. Além disso, o convívio com os pais é só
uma etapa do desenvolvimento. Em casa, a criança cria ferramentas que poderá
desenvolver ou não quando passar por outro desafio: a busca para ganhar
destaque entre seus iguais.
Mas se pensávamos que apenas os
pais influenciam, as amizades influenciam muito
mais do que imaginamos. Em 1998, a psicóloga americana Judith Rich Harris causou
uma revolução nas teorias da personalidade ao afirmar que o convívio com os
pais é só um dos fatores que influenciam a personalidade dos filhos, e um dos
menos importantes. No livro Diga-me com Quem Anda..., ela fala que as relações
horizontais, dos 6 aos 16 anos, da criança com seus pares, o grupo de amigos da escola ou da vizinhança,
são o grande definidor da personalidade adulta.
Com
seu livro desmistificador, Judith Harris tranquiliza os pais quanto a seu real
papel na formação dos filhos. Pois como milhares deles já podiam intuir por sua
própria experiência, apesar de toda a pressão cultural na direção contrária,
pais dedicados e atentos não garantem filhos felizes e seguros.
Disso
tudo, concluo: Os pais devem fazer da melhor maneira a parte
que lhes cabem em educar seus filhos, não deixando essa incumbência às escolas, alegando falta de tempo ou de paciência para lidarem com os filhos. Devem mostrar o certo e o errado, mas dando
livre arbítrio para suas escolhas e consequências. Afinal, por mais que
queiramos, os genes não restringem a liberdade humana. Eles a possibilitam. Por
último, amor e atenção na dosagem certa. A overdose de amor sufoca. Atenção em
demasia faz com que pais se esqueçam de que também precisam respirar e viver.
Não sei até onde meus genes e o ambiente no qual criei meus filhos interferem em suas personalidades. Sei que fiz o melhor que eu tinha de mim. Penso que ainda faça desse jeito, mas que pode já não ser o jeito perfeito para eles, justamente porque fizeram suas escolhas.
A gente só deseja que sejam felizes, mesmo que cada um tenha conceito diferenciado do que seja a Felicidade (Foto: Gustavo Pinheiro) |
As referências estão nas citações dos autores/Livros/Artigos.
Mamãe Coruja
Não tenho qualquer dúvida a este respeito.
ResponderExcluirSempre foi o melhor.. De coração! A sra é minha referência para criação agora dos meus filhos..seus netos.
ResponderExcluirBjs.. Te amo.
Obrigada, filho amado e querido.
ExcluirMeus netos lindos da vovó.