segunda-feira, 24 de março de 2014

Apenas me diga um oi...ainda que em um papiro de 1800 anos

Olás...

Rezo noite e dia para que estejam de boa saúde e presto obediência contínua aos deuses em vosso nome.” A frase faz parte de uma mensagem com 18 séculos, escrita por Aurelius Polion, cidadão romano, legionário, para a sua família,  por volta do ano 214 depois de Cristo (d.C.). Embora tenha sido  encontrado no final do século XIX, mas por estar tão degradado, só recentemente o papiro foi decifrado do grego antigo e traduzido para inglês. 

O estudo do papiro foi publicado no Bulletin of the American Society of Papyrologists, e assim conhecemos que a saudade sentida é dolorida, ainda mais quando ausente de notícias da família. 

"Cerca de 4000 quilómetros separam a Panónia Inferior, a província romana onde Aurelius Polion estava colocado (hoje na região de Budapeste, na Hungria), e a cidade de Tebtunis, a 130 quilómetros a sudoeste do Cairo, no Egipto, onde a família do legionário vivia. Foi nos vestígios desta cidade egípcia, dominada por Roma, que os egiptólogos britânicos Bernard Grenfell e Arthur Hunt encontraram, no final do século XIX, este e outros papiros", diz  o Jornal Público/PT.

Em mais trechos da carta  dirigida ao irmão, à irmã e à mãe, percebe-se a angústia de alguém distante sem saber notícias dos queridos. “Não paro de vos escrever, mas vocês não se lembram de mim. Mas eu faço a minha parte de vos escrever e não paro de vos ter presentes (na minha mente) e de vos trazer no coração. Mas vocês nunca me responderam, falando da vossa saúde, de como estão. Estou preocupado convosco, porque, apesar de receberem frequentemente cartas minhas, nunca respondem, para que saiba de vocês.

E continua a exigir notícias da família: “Enviei-vos seis cartas. No momento em que vocês (?) me tiverem na mente, deverei obter uma licença do (comando) consular, e irei ter convosco para que saibam que sou vosso irmão. Porque não exijo (?) nada de vocês para o exército, mas culpo-vos porque, apesar de vos escrever, nenhum de vocês (?) … tem consideração. Vejam, o vosso (?) vizinho … Sou o vosso irmão.”

Segundo a  nota, Aurelius Polion terá pertencido a uma família de classe baixa com alguns privilégios, mas não escreveria bem: “Ele até escrevia algumas letras do alfabeto latino em vez do grego e usava alguma pontuação latina."

Por que lhes  trago essa interessante notícia? Primeiro, para mostrar que independente do espaço de tempo, o Homem sempre teve a necessidade de não estar sozinho. A comunicação - e não importa qual o meio - escrita, falada, televisionada, gestual - faz parte do universo animal (repito: universo animal, não me referindo somente ao Homem). Segundo, para demonstrar que esse sentimento  chamado  S A U D A D E pode ter o impacto de duas vertentes: uma, para nos manter vivos, com a esperança de que iremos rever as pessoas queridas; outra,  para lembrar das alegrias passadas pelas nossas vidas. Porque só sentimos SAUDADE  das pessoas  e dos fatos que nos fizeram  felizes.

É assim que tento  me manter  esperançosa, todas as vezes que vou deixar alguém amado no Aeroporto, como ontem,  para realizar o que lhe faz feliz, ainda que seja para longe de mim. E, quando for para buscar esse amado, o buscarei... para matar todas as saudades.

E, quando nao puder vê-lo... basta um toque virtual... e terei notícias. Ao contrário de Aurelius... que em dias e noites angustiantes... só tinha a sua própria companhia... e agonia.
Se nunca sabemos o depois...  por que esquecemos de dizer a quem amamos o  que tanto querem ouvir? Por quê?
Mamãe Coruja 



3 comentários:

  1. Será que daqui a 1800 anos já (?) terás recebido o DiciOrdinário?

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  2. Ah! Sim. eu sou um poço de otimismo.
    Tão logo o receba... dar-te-ei um "oi", num papiro inovado.

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